Por Victor Affonso
Talvez você não tenha
ouvido falar de Leandro Roque de Oliveira, mais um moleque nascido e criado em
Cachoeira, Zona Norte de São Paulo, hoje com 25 anos, nem das dificuldades que
ele passou ao longo de sua vida, quando foi de pedreiro até vendedor de rua.
Mas com certeza já ouviu falar no Emicida, músico responsável por reinventar o rap nacional e trazer este gênero
novamente à tona, o que lhe rendeu o apelido de “Leonardo da Vinci do rap”.
Na verdade, Leandro e
Emicida são a mesma pessoa, o que diferencia os dois é a fama. “Isso não me
assusta”, retruca o rapper, falando
do sucesso repentino – seu primeiro single
foi lançado apenas três anos atrás, e hoje o clipe desta mesma música conta com
quase 2 milhões de acessos no Youtube. “Sou viciado na batalha, nada me
intimida”, garante, com o sotaque paulista carregado de “manos”, “tá ligados” e
“demorôs”, gírias que a selva de concreto lhe ensinou ao longo destas duas
décadas e meias de aprendizagem, como ele mesmo define.
Mas, nem por isso ele é
menos do que os outros músicos. “Essa é a minha realidade”, afirma, durante
entrevista para a INTERA, uma semana antes de seu primeiro show em Manaus, que
acontece neste sábado, dia 6, na Noite Fora do Eixo, no República Oficial.
Emicida também falou sobre
os novos projetos - um em parceria com a Macaco Bong -, como a indústria da
música funciona no século 21, a infantilidade em suas músicas; e outra parceria
com o Fora do Eixo e o porquê de sua apresentação no festival Coachella ter
sido um fiasco.
Foto: Reprodução |
Dia
31 (de julho) teve o lançamento do seu novo EP, gravado com os produtores americanos
Beatnick e Ksalaam (que já trabalharam com nomes como Nas e Commom). Como foi
isso?
Isso aí nasceu porque nós cantamos uma música dos
caras sem a autorização deles, e aí procuraram a gente e acabamos conversando.
Eles acharam o som muito bom e íamos fazer um single juntos, mas achamos melhor fazer um EP, e conseguimos
produzir esse trabalho aí. Dia 31 aconteceu o lançamento desse material.
Qual
o nome do EP e quantas faixas?
“Doozicabraba e a Revolução Silenciosa”. Vão ser nove
faixas e uma surpresa.
Já
pode adiantar o que vai ser a surpresa?
A surpresa é a surpresa, né mano?!
E o
show em Manaus, vai ser baseado neste novo trabalho?
Também. Vai ter coisa do EP, assim como coisas de
trabalhos anteriores… Manaus é um lugar que a gente nunca foi, então, vamos ter
que montar um show bem completo.
Aqui
a cena do rap não é muito forte. Você
já ouviu alguma coisa de Manaus quanto a isso?
Não. Uma vez eu vi um vídeo de uns caras que cantavam.
Era uma rapaziada meio indígena, mas não era legal. Acabei não conhecendo
outras coisas. O único contato que tive com o rap de Manaus foi esse, que não achei muito maneiro. Mas,
principalmente hoje, as informações estão circulando muito rápido, então
acredito que deva ter sim (grupos bons em Manaus). É uma cultura muito louca,
então é natural que tenha umas paradas mais diferenciadas.
Falando
em informações circulando rapidamente, seu vídeo mais visualizado, “Triunfo”,
já tem quase dois milhões de acesso no Youtube.
Você acha que a Internet é um grande responsável pelo seu sucesso?
Cara, acho que o maior responsável pelo meu sucesso é
o trampo sério. A Internet é só uma das ferramentas que a gente usa. Obviamente,
conseguimos alcançar mais pessoas, ter suas obras disponíveis para elas as encontrarem
na hora que procurarem. É uma vantagem muito boa, mas não vou tirar o valor de
acordar cedo e estar no escritório todo dia de manhã, isso ainda é o que faz a
coisa andar.
E como
é estar onde você está hoje? O seu primeiro single
foi só há três anos, como você descreve essa ascensão tão rápida?
Na verdade, meu primeiro single foi há três anos, mas eu faço isso desde 1999; desde 2006
que venho fazendo esse trabalho mais sério. A fama não me assusta não. Tenho
uma meta muito distante, então, tento nem pensar nisso hoje. Entrei num circuito
de pensamento e fluxo de ações que eu só trabalho, quer dizer, eu não trabalho,
eu vivo! Já está interiorizado no meu ser, o jeito que vivo. Por isso, que não
me assusta, nem a repercussão, nem as coisas que acontecem. Obviamente, fico
feliz, mas não breco as coisas para “ah, agora vou comemorar”. Sou viciado na batalha,
eu gosto de estar no meio do trabalho, então isso é o que mais me inspira. A
conquista me deixa feliz, mas o que mais me fascina é poder estar trabalhando.
Nem
se sente intimidado?
Nem me sinto intimidado, não tem nada que me bote
medo. Trabalhei vendendo hot dog na
rua, trabalhei como pedreiro, então o que vai me assustar? Parar de fazer show?
O mercado dar uma estagnada? Eu já nasci no meio da crise, tá ligado? Todo
mundo me dizia que não tinha mais dinheiro em lugar nenhum, e tive que aprender
a tirar leite de pedra, indo fazer a coisa do meu jeito. Criei meu circuito, a
forma como trabalho, e tenho achado alguns parceiros para fazer isso se
potencializar. Essa é a maneira que vivo. Então, não tem porque ter um tipo de
medo de alguma reviravolta. Não tenho problema nenhum em ser uma pessoa normal
andando de ônibus, se isso voltar a acontecer.
Já
ouvi, mais de uma vez, te chamarem de ‘Leonardo da Vinci do rap’. Como você responde a isso?
Não, sou Leandro da Vinci (risos). Sério mesmo que os
caras falam isso?! Na verdade eu odeio comparação, não importa quão boa a outra
pessoa seja. Esse lance de comparação limita o alcance da coisa, ela te coloca
num lugar fixo, sem chance de crescer. Falam
“o Emicida é o Jay-Z brasileiro, é o Leonardo da Vinci do rap”, mas são coisas que não me apego muito. Eu entendo que para as
pessoas é uma forma de me elogiar, fico grato até pela comparação no raciocínio
delas, mas elogio mesmo vai ser quando as pessoas olharem para mim e falarem:
“Mano, você tá parecido com o Emicida”, tá ligado? (risos).
Esse
ano teve alguns clipes novos, o “Rua Augusta” e o “Então toma!”, por exemplo.
Tem mais alguma coisa nova vindo aí?
Estou fazendo coisa “pra caralho”! Tem mais um vídeo
pronto, de uma música chamada “Rinha”... Não sei ainda como vamos
disponibilizar esse material, mas já começamos a pensar nisso. A gente vai
produzir coisas do novo EP, também. Tem muita coisa para acontecer ainda.
Embora o fluxo seja maior, com muita coisa acontecendo, eu estou querendo dar
um breque em algumas coisas, para poder parar e montar meu álbum oficial,
utilizando algumas coisas das mixtapes
e dos EPs. Já rodei o país duas vezes, fui para umas cidades distantes, então,
este é o momento de sentar e colocar dentro de um trabalho toda essa concepção
de música que juntei ao longo dessas duas décadas e meia.
Videoclip "Então Toma!", trabalho recente do rapper paulista Emicida.
Confira amanhã a segunda parte da entrevista com o Emicida.
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